Relações públicas junto ao governo

Hipólito Gouveia



Tradicionalmente costuma-se dividir os públicos de uma organização em dois grupos básicos: o público interno e o público externo. A partir desta divisão é possível encaixar as mais diversas frações de públicos. Não raro, todavia, outro elemento é apontado nessa divisão básica: o público misto.



Contemplados pela alcunha de público externo estão: revendedores, consumidores, fornecedores, entidades de classe, bancos, grupos sociais organizados, professores e estudantes, imprensa e sindicatos, dente outras diversas fatias. Waldyr Gutierrez Fortes, em seu Relações públicas: processo, funções, tecnologia e estratégias, ainda inclui, no bojo do público externo, a categoria “governo”, com todos os seus braços nas três esferas (municipal, estadual e federal), e nos três poderes (legislativo, judiciário e executivo).


Como o governo não divide – ao menos em tese – os gravames dos empreendimentos privados com os empresários, muitos empreendedores se negam em vê-lo como algo diferente de público externo. Entretanto, não se deve esquecer que, especialmente em países com estrutura burocrática oficial como a do Brasil, o governo acaba regulando e consumindo boa parte da potencialidade e dos lucros dos negócios. Destarte, a estância estatal não deve ser interpretada como mera agente externa, embora se aceite tal nomenclatura para sua posição com relação a uma instituição privada.



A partir da consciência da real dessemelhança entre o governo e os demais públicos, é recomendável que a instituição procure trabalhar e aperfeiçoar continuamente a sua relação com o aparelho estatal. Tal relação não pode se resumir às ações de lobby. O governo deve ser efetivamente discernido como um público importante da organização. O sucesso obtido no relacionamento com o Estado pode, inclusive, tornar-se um dos elementos da composição do prestígio da organização junto a seus clientes – o público final.



Entendimento e retidão

 

Uma comunicação que vise o entendimento e a transparência é um bom começo na labuta pela pavimentação de um relacionamento amistoso e duradouro com o governo. Outro ponto inicial, de suma importância, diz respeito ao treinamento. É necessário que os gestores saibam quais as atribuições de cada órgão e de cada esfera governamental: o que diz respeito à esfera do governo municipal, estadual e federal. Tais informações devem ser apuradas, com ênfase nas atribuições estatais que envolvam temas de interesse da organização.



Não basta colher e conhecer tais dados relativos à competência de cada domínio governamental. Um apurado trabalho de atualização deve ser empreendido. Novas legislações que regulamentam o campo de atuação da instituição, bem como novos impostos e instruções para o setor, incluindo as que versam sobre regras de concorrência entre empresas de um mesmo segmento, devem ser obtidas e repassadas a quem de interesse.


O ato de não pagar uma das contribuições governamentais pode redundar em um escândalo envolvendo até mesmo órgãos policiais, resultando em uma crise para a imagem institucional da organização. Assim, a suposta economia empreendida por meio de sonegação, seja ela intencional ou por mera falta de informação, pode sair bem cara, principalmente se a instituição em questão for de grande porte. A sociedade costuma cobrar mais, abrangendo atitudes no tocante a obrigações com o governo, de empresas com grande faturamento – especialmente se esta for uma multinacional.  







Relações públicas: função política | Roberto Porto Simões. Editora Summus. 




Lobby - O que é, como se faz: ética e transparência na representação junto a governos | Saïd Farhat. Aberje Editorial

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário.
Sua mensagem é muito bem-vinda!