O caso do jovem que trocou o ônibus pela caminhada

Imagem: Public Domain Pictures

A experiência do jovem que formou poupança economizando com a passagem de ônibus exemplifica os poderes da mudança de hábitos e dos pequenos gastos recorrentes no orçamento.


Tiago Eloy Zaidan

Você anda de ônibus? E se uma vez por semana você trocar o percurso de ônibus por uma caminhada? Uma vez por semana, apenas. Você escolhe qual o percurso. Pode ser o caminho para a academia. Para o curso. Para o shopping. Para o trabalho. Tudo vai depender da distância e da conveniência. É lógico que nem sempre dá para trocar o transporte motorizado pela caminhada. Mas, se for possível, a primeira beneficiada é a sua saúde. E o efeito colateral é a economia.

Um caso real

Conheço o caso de um jovem que está às voltas com um tratamento de alergia. O orçamento dele é apertado, mas os gastos com esse tratamento são tidos como indispensáveis e se incorporaram às despesas correntes. Toda semana, ele precisa ir à clínica de alergologia para tomar uma dose de uma vacina. O tratamento é demorado e deve se estender por cerca de quatro anos. Já se foi um ano levando agulhada no braço, uma vez por semana.

Paralelamente, o paciente sobre o qual discorro neste texto mudou alguns hábitos, em nome de sua própria saúde. Antes sedentário, o jovem passou a adotar práticas mais saudáveis. Dentre as quais, passou a andar mais a pé. Como não tem muito tempo de sobra, pois a jornada de trabalho é extensa, o rapaz busca – sempre que possível – abrir mão do ônibus (ele não tem carro) e resolver as suas demandas a pé. Assim, já está realizando suas caminhadas.

Lógico que, com a agenda apertada durante a semana, nem sempre é possível abrir mão do transporte. Mas o jovem encontrou uma ocasião em que a substituição do coletivo pela caminhada lhe era plenamente conveniente: as ocasiões das visitas à clínica de alergologia, para tomar as vacinas. Comprometeu-se em fazer o percurso de ida e volta para a clínica sempre a pé.

Passado um ano, o jovem garante que os efeitos da caminhada já podem ser sentidos. Abrir mão do ônibus uma vez por semana, portanto, surtiu o efeito esperado na sua saúde. O jovem não atentou, todavia, para uma consequência colateral. Ao deslocar-se a pé, ida e volta, uma vez por semana, o rapaz economizou duas passagens de ônibus por semana. Ou seja, oito passagens por mês. Por ano, são 96 passagens.

Na cidade onde esse caso se desenrolou, a passagem de ônibus custava, na época, R$ 3,55. Ao economizar duas passagens por semana, o paciente da clínica de alergologia deixou de despender R$ 7,10 por semana. Por mês, a economia foi de R$ 28,40. Ao fim de um ano, o acumulado economizado foi de R$ 340,80. Detalhe: recentemente, a tarifa aumentou. Por conseguinte, o montante economizado também.

Esses números se referem, apenas, a atitude de trocar o ônibus pela caminhada uma vez por semana. Imagine se o passageiro estende o seu novo hábito para mais um dia da semana? Ele dobraria o seu caixa para poupança somente com o que deixou de pagar para a empresa de ônibus que monopoliza o percurso.

Se olharmos para a planilha financeira deste jovem sobre o qual discorremos, e de resto, a planilha de muitos brasileiros, uma análise apressada irá sugerir que não há como fazer sobrar qualquer quantia no fim do mês. Tudo parece muito apertado. E de fato é. Em todo caso, conforme relatado aqui, o rapaz conseguiu fazer sobrar, no fim do ano, mais de R$ 300. Parece pouco. E é pouco. Mas é o suficiente para que ele possa começar a investir, sem comprometer o seu orçamento. Ou seja, os R$ 340 são uma sobra. Não fará qualquer falta se for subtraído da conta corrente. Já não se estava contando com esse valor para pagar a despesas correntes, como aluguel e alimentação.

Não é raro nos referirmos a passagem do transporte coletivo como algo barato, como um trocado. Essa visão é especialmente compartilhada por quem usa o transporte individual. Mesmo entre aqueles que não possuem automóvel, são raras as pessoas que contabilizam os valores gastos com passagens em suas listas de despesas mensais. É como se essa despesa não fosse digna de figurar ao lado das contas de energia elétrica, aluguel, dentre outros. Ledo engano.

Os gastos recorrentes, quando acumulados no médio e longo prazo, passam a representar valores significativos. Mesmo que esses gastos diários ou semanais sejam aparentemente pequenos. Um cafezinho na padaria, uma sobremesa depois do almoço, um cigarro no fim da tarde. Some-os durante um ano e surpreenda-se com o resultado.

Tiago Eloy Zaidan é jornalista e professor da Unidade Acadêmica de Gestão e Negócios do Instituto Federal da Paraíba – campus João Pessoa.

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