Você admite perder na conta de energia?

Imagem: Wikipedia

Ficamos insatisfeitos quando não recebemos o troco correto no mercado. Mas – quase sem perceber – abrimos mão destes mesmos trocados todos os dias, por conta do desperdício de energia elétrica. Mudanças de hábito e a tecnologia ajudam a tornar o consumo mais eficiente.


Tiago Eloy Zaidan

Especialmente em tempos de crise, somos implacáveis. Quando tomamos um ônibus e pagamos a passagem ou vamos ao supermercado, não abrimos mão do troco. Deixar passar um ou dois reais de troco na feira, ou ainda menos no troco da passagem de ônibus, nos deixa a sensação de estar perdendo algo para alguém. Nos casos dos exemplos, para o dono do supermercado ou o dono da empresa de ônibus, os quais imagina-se, já são abastados o suficiente.

Por outro lado, o mesmo rigor não costuma ser aplicado quando a assunto é a conta de energia. Diariamente, com a energia elétrica, perde-se esse um real, esses dois reais dos trocos do mercado ou do coletivo para a companhia de eletricidade, sem nem se aperceber. Acontece quando saímos de um cômodo e deixamos a lâmpada acesa. Ou quando nos desligamos debaixo do chuveiro elétrico, ou quando esquecemos o televisor ligado, sem ninguém para assistir. Somado tudo, aqueles dois reais não deixados no supermercado são transferidos para os acionistas da companhia de eletricidade.

É muito comum, quando falo de educação financeira, principalmente para interlocutores de perfil socioeconômico mais vulneráveis, ouvir, com certa razão: “como eu vou economizar se eu já vivo no limite!”. Talvez, na conta de energia, estejam algumas pistas de caminhos para conseguir começar a economizar alguma coisa. E isso não implica, necessariamente, em abrir mão do conforto que os aparelhos elétricos oferecem.

Existe uma diferença entre os conceitos de eficiência energética e racionamento de energia, conforme explica Walmeran Trindade, professor dos cursos de Eletrotécnica e Engenharia Elétrica do campus João Pessoa do Instituto Federal da Paraíba. “Os serviços energéticos proporcionam algum conforto, alguma comodidade. Fazer eficiência energética é você consumir menos, sem abrir mão dessa comodidade, desse conforto. Não se trata de diminuir os serviços energéticos, e sim manter ou aumentar as entregas energéticas diminuindo o consumo”, esclarece.

O racionamento de energia, por sua vez, implica em abrir mão dos serviços energéticos ou dos equipamentos elétricos, e, consequentemente, do conforto que eles proporcionam. Os brasileiros vivenciaram a experiência do racionamento de energia em 2001, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso se viu às voltas com o que ficou conhecido como “a crise do apagão”.

Este exemplo didático ajuda a entender melhor os conceitos: eficiência energética é valer-se de um banho quente tomando a precaução de ajustar a temperatura da água no chuveiro elétrico para o modo verão, além de fechar o registro enquanto se ensaboa. Racionar energia é simplesmente abrir mão do chuveiro elétrico e tomar banho frio. É óbvio que a economia propiciada pelo racionamento é maior. Mas também é óbvio que você não vai abrir mão de equipamentos elétricos como a geladeira. Ou mesmo do chuveiro elétrico durante uma noite chuvosa de inverno. É possível ser razoável é ainda assim economizar na conta. A solução: eficiência energética.

Duas palavras-chave estão diretamente relacionadas à eficiência energética. Hábito e tecnologia. Aqui, o hábito nada mais é que a boa prática de se evitar o desperdício. Saiu do quarto, apague a luz. Vai tomar banho quente, seja razoável. Nada de ficar cantando no chuveiro. Se está assistindo à TV, desligue o rádio. Se não está assistindo à TV, desligue o televisor também. Já a tecnologia diz respeito a eficiência dos equipamentos eletrônicos que você tem na sua casa. Os equipamentos mais novos costumam ser mais eficientes. Ou seja, oferecem mais comodidades com menos energia. É o caso da lâmpada de LED, em comparação com a fluorescente compacta. A economia é ainda mais gritante se comprarmos as lâmpadas de LED com as velhas e ineficientes incandescentes – lembra delas?

Mesmo entre produtos contemporâneos, a venda nas lojas, pode haver diferença significativa no que diz respeito ao consumo de energia. Ou seja, mesmo oferecendo os mesmos resultados, um eletrodoméstico A pode consumir menos energia que um eletrodoméstico B. É aí que entra o PROCEL – o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Os brasileiros já se acostumaram a ver a etiqueta de eficiência energética colada nas portas das geladeiras em exposição nas Casas Bahia da vida. Vale a pena levar esse adesivo à sério. Ele vai te ajudar a escolher o eletrodoméstico mais eficiente, o que redundará em um peso menor na conta de energia todo mês.

A medida que os consumidores foram se tornando mais exigentes, e cientes da atuação do PROCEL, a indústria passou a se sentir forçada a tornar os seus equipamentos mais eficientes. Para tal, contaram com o avanço da tecnologia. A meta passou a ser a classificação “A” na etiqueta, o que indica maior eficiência energética e garante o selo PROCEL (aquele em que aparece estampada uma lâmpada piscando). A escala começa no “A” e pode ir até o “C” ou “G”, a depender do produto avaliado. Hoje, em alguns segmentos da indústria, difícil é encontrar um eletrodoméstico que não seja “A”. Diante de um empate na classificação do PROCEL, duas geladeiras “A”, por exemplo, o consumidor pode se valer de detalhes expostos na etiqueta para desempatar. Isso porque, mesmo dentro da classificação “A”, pode haver uma geladeira mais econômica do que outra. Nesses casos, explica Trindade, é interessante atentar para a informação do consumo de energia, que aparece logo abaixo da escala de classificação na etiqueta de eficiência energética. Quanto menor o consumo, melhor. Mesmo que o preço da geladeira mais eficiente seja maior, vale a pena ponderar. Ao longo dos anos, o que o consumidor economizar em energia elétrica acabará compensando uma eventual diferença no preço.

No final, ao atentar para a sua própria conta de energia, todos saem ganhando. “Ao gastar menos energia elétrica, estou pressionando menos a hidroelétrica, a termoelétrica, a nuclear, que estão lá na ponta, fazendo o seu passivo ambiental”, defende o professor Walmeran Trindade. O ganho ambiental é possivelmente o resultado mais nobre da busca pela eficiência energética. Talvez, a economia no orçamento doméstico seja o bônus. Uma espécie de troco. E, como já foi dito, especialmente nestes tempos, quem abre mão do troco?

Tiago Eloy Zaidan é jornalista e professor da Unidade Acadêmica de Gestão e Negócios do Instituto Federal da Paraíba campus João Pessoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário.
Sua mensagem é muito bem-vinda!