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Ficamos insatisfeitos quando não recebemos o troco correto
no mercado. Mas – quase sem perceber – abrimos mão destes mesmos trocados todos
os dias, por conta do desperdício de energia elétrica. Mudanças de hábito e a
tecnologia ajudam a tornar o consumo mais eficiente.
Tiago Eloy Zaidan
Especialmente em tempos de crise, somos implacáveis. Quando tomamos
um ônibus e pagamos a passagem ou vamos ao supermercado, não abrimos mão do
troco. Deixar passar um ou dois reais de troco na feira, ou ainda menos no
troco da passagem de ônibus, nos deixa a sensação de estar perdendo algo para
alguém. Nos casos dos exemplos, para o dono do supermercado ou o dono da
empresa de ônibus, os quais imagina-se, já são abastados o suficiente.
Por outro lado, o mesmo rigor não costuma ser aplicado
quando a assunto é a conta de energia. Diariamente, com a energia elétrica,
perde-se esse um real, esses dois reais dos trocos do mercado ou do coletivo
para a companhia de eletricidade, sem nem se aperceber. Acontece quando saímos
de um cômodo e deixamos a lâmpada acesa. Ou quando nos desligamos debaixo do
chuveiro elétrico, ou quando esquecemos o televisor ligado, sem ninguém para
assistir. Somado tudo, aqueles dois reais não deixados no supermercado são
transferidos para os acionistas da companhia de eletricidade.
É muito comum, quando falo de educação financeira,
principalmente para interlocutores de perfil socioeconômico mais vulneráveis,
ouvir, com certa razão: “como eu vou economizar se eu já vivo no limite!”. Talvez,
na conta de energia, estejam algumas pistas de caminhos para conseguir começar
a economizar alguma coisa. E isso não implica, necessariamente, em abrir mão do
conforto que os aparelhos elétricos oferecem.
Existe uma diferença entre os conceitos de eficiência
energética e racionamento de energia, conforme explica Walmeran Trindade, professor
dos cursos de Eletrotécnica e Engenharia Elétrica do campus João Pessoa do
Instituto Federal da Paraíba. “Os serviços energéticos proporcionam algum
conforto, alguma comodidade. Fazer eficiência energética é você consumir menos,
sem abrir mão dessa comodidade, desse conforto. Não se trata de diminuir os
serviços energéticos, e sim manter ou aumentar as entregas energéticas
diminuindo o consumo”, esclarece.
O racionamento de energia, por sua vez, implica em abrir mão
dos serviços energéticos ou dos equipamentos elétricos, e, consequentemente, do
conforto que eles proporcionam. Os brasileiros vivenciaram a experiência do
racionamento de energia em 2001, quando o então presidente Fernando Henrique
Cardoso se viu às voltas com o que ficou conhecido como “a crise do apagão”.
Este exemplo didático ajuda a entender melhor os conceitos:
eficiência energética é valer-se de um banho quente tomando a precaução de
ajustar a temperatura da água no chuveiro elétrico para o modo verão, além de fechar
o registro enquanto se ensaboa. Racionar energia é simplesmente abrir mão do
chuveiro elétrico e tomar banho frio. É óbvio que a economia propiciada pelo
racionamento é maior. Mas também é óbvio que você não vai abrir mão de
equipamentos elétricos como a geladeira. Ou mesmo do chuveiro elétrico durante
uma noite chuvosa de inverno. É possível ser razoável é ainda assim economizar
na conta. A solução: eficiência energética.
Duas palavras-chave estão diretamente relacionadas à
eficiência energética. Hábito e tecnologia. Aqui, o hábito nada mais é que a boa
prática de se evitar o desperdício. Saiu do quarto, apague a luz. Vai tomar
banho quente, seja razoável. Nada de ficar cantando no chuveiro. Se está
assistindo à TV, desligue o rádio. Se não está assistindo à TV, desligue o
televisor também. Já a tecnologia diz respeito a eficiência dos equipamentos eletrônicos
que você tem na sua casa. Os equipamentos mais novos costumam ser mais
eficientes. Ou seja, oferecem mais comodidades com menos energia. É o caso da
lâmpada de LED, em comparação com a fluorescente compacta. A economia é ainda
mais gritante se comprarmos as lâmpadas de LED com as velhas e ineficientes
incandescentes – lembra delas?
Mesmo entre produtos contemporâneos, a venda nas lojas, pode
haver diferença significativa no que diz respeito ao consumo de energia. Ou
seja, mesmo oferecendo os mesmos resultados, um eletrodoméstico A pode consumir
menos energia que um eletrodoméstico B. É aí que entra o PROCEL – o Programa
Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Os brasileiros já se acostumaram a
ver a etiqueta de eficiência energética colada nas portas das geladeiras em
exposição nas Casas Bahia da vida. Vale a pena levar esse adesivo à sério. Ele
vai te ajudar a escolher o eletrodoméstico mais eficiente, o que redundará em
um peso menor na conta de energia todo mês.
A medida que os consumidores foram se tornando mais
exigentes, e cientes da atuação do PROCEL, a indústria passou a se sentir
forçada a tornar os seus equipamentos mais eficientes. Para tal, contaram com o
avanço da tecnologia. A meta passou a ser a classificação “A” na etiqueta, o que
indica maior eficiência energética e garante o selo PROCEL (aquele em que
aparece estampada uma lâmpada piscando). A escala começa no “A” e pode ir até o
“C” ou “G”, a depender do produto avaliado. Hoje, em alguns segmentos da
indústria, difícil é encontrar um eletrodoméstico que não seja “A”. Diante de
um empate na classificação do PROCEL, duas geladeiras “A”, por exemplo, o
consumidor pode se valer de detalhes expostos na etiqueta para desempatar. Isso
porque, mesmo dentro da classificação “A”, pode haver uma geladeira mais
econômica do que outra. Nesses casos, explica Trindade, é interessante atentar
para a informação do consumo de energia, que aparece logo abaixo da escala de
classificação na etiqueta de eficiência energética. Quanto menor o consumo, melhor.
Mesmo que o preço da geladeira mais eficiente seja maior, vale a pena ponderar.
Ao longo dos anos, o que o consumidor economizar em energia elétrica acabará
compensando uma eventual diferença no preço.
No final, ao atentar para a sua própria conta de energia,
todos saem ganhando. “Ao gastar menos energia elétrica, estou pressionando
menos a hidroelétrica, a termoelétrica, a nuclear, que estão lá na ponta,
fazendo o seu passivo ambiental”, defende o professor Walmeran Trindade. O
ganho ambiental é possivelmente o resultado mais nobre da busca pela eficiência
energética. Talvez, a economia no orçamento doméstico seja o bônus. Uma espécie
de troco. E, como já foi dito, especialmente nestes tempos, quem abre mão do
troco?
Tiago Eloy Zaidan é jornalista e professor da Unidade
Acadêmica de Gestão e Negócios do Instituto Federal da Paraíba campus João
Pessoa.
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