Dissonância cognitiva, do desconforto psicológico à formação de bolhas

Temos as nossas opiniões, crenças, e práticas cotidianas, muitas delas arraigadas. E às vezes acontece de nos deparamos com informações ou opiniões novas que entram em rota de colisão com as nossas práticas, conhecimentos e crenças antigas. É nesse momento que ocorre o que chamamos de dissonância cognitiva. Em geral, essa dissonância leva a um desconforto psicológico.

Eloy Zaidan

Diante do confronto com as nossas crenças, procuramos nos ater aos detalhes da informação nova que corroboram com as nossas opiniões. Podemos até chegar ao ponto de distorcer as informações na recepção, de modo a reduzir o desconforto psicológico.

Note que o problema não é falta de informação. Pois mesmo o acesso à informação pode não ser suficiente para nos fazer mudar de opinião ou atitude. Isso porque podemos usar a informação de forma seletiva, ou então, até mesmo distorcê-la.

E quando fazemos isso, nos privamos da contribuição que as novas informações e opiniões poderiam nos dar. Incorporar dados e opiniões divergentes nos ajudariam a ampliar o repertório e aumentar as nossas chances de tomar decisões melhores.

Mais ainda pode ser pior. No limite, há a possibilidade de simplesmente evitarmos as informações contrárias que possam gerar dissonância cognitiva. Com isso, passamos a evitar as pessoas, as opiniões e as fontes de informações que não corroboram conosco. E, na sequência, passamos a procurar fontes ou pessoas que partilham de atitudes e opiniões como as nossas. Fazemos isso para reforçar a percepção de estamos corretos. Tudo para nos mantermos na zona de conforto das nossas ideias preconcebidas e hábitos arraigados.

Daí, chegamos a outro fenômeno: o da formação de bolhas. Ao que parece, as mídias digitais sociais acentuaram esse fenômeno. Alguns veículos de comunicação também passaram a alimentar a comunicação específica com nichos políticos e ideológicos como estratégia mercadológica. Ao voltar-se para nichos e evitar a dissonância cognitiva, mantendo a audiência na zona de conforto psicológica, alguns emissoras de rádio e televisão garantiram audiências cativas. Tudo somado, o que se vê é uma ampliação das bolhas e o desprezo pela busca do consenso dialogado.

Se quisermos nos tornar pessoas melhores, devemos ser capazes de processar dados e opiniões que nos ajudem a ter uma visão mais ampla. Quanto maior o nosso repertório de análises e informações, maiores as chances de tomar decisões mais acertadas.

Por isso, é necessário saber lidar com a dissonância cognitiva e com o desconforto psicológico decorrente. Não devemos abrir mão da capacidade de lidar com as dissonâncias. Das dissonâncias, é possível que tiremos algo que seja útil para o nosso crescimento pessoal ou para a nossas tomadas de decisão.

A leitura seminal para aprofundar o conhecimento a respeito desse conceito é o livro “Teoria da dissonância cognitiva”, do psicólogonorte-americano Leon Festinger (1919 - 1989).


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