Aloísio Gueiros
Durante dias, nos noticiários, alguns temas merecem
exaustiva cobertura, ao passo que outros jazem no limbo do esquecimento pelos
meios de comunicação de massa. Em alguns casos, assuntos aparentemente sérios
e, não raro, efetivamente sérios são completamente ignorados, enquanto
histórias amenas são fragorosamente valorizadas, encerrando o telejornal com
grande espaço.
Como explicar isso?
Para além das pesquisas engendradas com o newsmaking
– que introduziu conceitos importantes à pesquisa do jornalismo, como o de
noticiabilidade e valores-notícia – a teoria do gatekeeper e o conceito de
acontecimento-chave ajudam a entender os meandros das seleções das notícias nos
veículos de comunicação social.
Gatekeeper, como o próprio nome em inglês sugere,
centra o seu foco na atividade de seleção das informações. Originalmente, o conceito foi criado por Kurt Lewin,
mas seu uso na comunicação deve-se a Manning White.
Kurt Lewin |
O gatekeeping apresenta a quebra do tabu que atribui
às referências implícitas ao público o maior peso no processo de seleção das
informações. Explica-se: ao contrário do que se pensa, no processo de seleção
das informações, as supostas preferências do público (audiência), pelo
jornalista, são inferiores às referências implícitas ao grupo de colegas –
incluindo aqui os superiores - e ao sistema de fontes. Ou seja, o contexto
profissional circundante tem maior peso em detrimento das hipotéticas
preferências do público (receptores), que, a bem da verdade, não passa de um
mero desconhecido do profissional de redação.
A linha editorial de um veículo de comunicação
também tem grande peso nesse processo de “cancela”, mesmo que tal linha não
seja discutida abertamente na redação. Conforme sugere Breed, muitas vezes, a
linha editorial de um veículo é apreendida por “osmose” no seio da organização
produtiva. Na realidade, o próprio processo de seleção dos profissionais para
trabalhar em um veículo pode contribuir para a perpetuação de uma linha
editorial.
Note-se que aqui percebemos um novo enfoque, que, de
certa forma, translada as luzes da manipulação explícita para uma distorção
inconsciente, verificada cm rotina na cobertura dos meios de comunicação.
Teoria do jornalismo | Felipe Pena. Editora
Contexto.
Teorias da comunicação em jornalismo: reflexões
sobre a mídia | Clóvis de Barros Filho; Felipe Tavares Paes Lopes & Luiz
Peres Neto. Editora Saraiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário.
Sua mensagem é muito bem-vinda!