Resenha: Comunicação de massa sem massa, de Sérgio Caparelli

Segundo documento do Centro de Informações do Exército, publicado no decorrer do regime ditatorial–militar brasileiro (1964 – 1985), “imprensa alternativa” é aquela formada por uma “... reunião de alguns jornalistas que, não obtendo colaboração adequada nos órgãos existentes, montaram o seu próprio jornal, geralmente em sistema de cooperativa, o qual, de proporções reduzidas quanto à tiragem, tamanho e objetivos, concorreria em faixa especial do mercado...”. O documento cita ainda que tal espécie de publicação é “... quase totalmente controlada por elementos comunistas”.

Aloísio Gueiros

Durante os anos de chumbo não foi fácil manter um veículo alternativo, também chamado de “independente” ou “nanico”. É o que mostra o livro Comunicação de massa sem massa, de Sérgio Caparelli. Jornais contestatórios como o Pasquim, Pato Macho e Movimento precisaram enfrentar censores – instalados na própria redação ou via Brasília –, apreensões de exemplares, prisões de seus membros e arrombamentos e roubos em suas sedes. E não só. Até mesmo seus escassos anunciantes eram pressionados pelo sistema repressor.

Foi o que ocorreu, por exemplo, com o jornal Opinião, que acabou obrigado a fechar as portas. Em seu último editorial – sem dúvida comovente – em 1º de abril de 1977, o conselho do Opinião afirmou que no período de existência do jornal, “... os 230 números que publicamos somaram 5 796 páginas impressas. Se acrescentarmos a esse número as matérias vetadas pela censura, teríamos publicado um total de 10 548 páginas”. O editorial cita ainda a morte do correspondente do periódico em São Paulo, Wladimir Herzog – morto nos porões da ditadura –, e profetiza: “... fazemos nossas despedidas da censura. Dos leitores, não. Porque voltaremos um dia a ser livres”. Este documento, assinado por notáveis como Celso Furtado e Francisco Weffort, é um dos materiais, de pertinente valor histórico, publicado nos anexos do livro de Caparelli, que aborda ainda o modelo de concessões de TV e rádio no país. 

Leitura recomendada: Comunicação de massa sem massa, de Sérgio Caparelli.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário.
Sua mensagem é muito bem-vinda!