“Fui uma criança do Estado de bem-estar. Bebi seu suco de laranja e recebi suas vacinas. Morei nos seus conjuntos habitacionais. Tive a certeza de receber todos os dias na escola uma garrafa de 150 ml de leite”. Tal depoimento sincero é uma mostra da franqueza com que seu autor, o intelectual de esquerda Geoff Eley, recheou o livro Forjando a democracia, considerada a obra da sua vida, tamanha a complexidade do objeto a qual se propôs estudar.
Mário Golshimitd
O Estado de bem-estar a qual Eley se refere trata-se de um modelo político, marcado, sobretudo, pela cultura protetora estatal, adotado em profusão, especialmente na Europa a partir do pós-segunda guerra. As ações que culminaram com o Estado de bem-estar constituíam-se de “... pacotes ambiciosos de direitos sociais...” que, a despeito de suas limitações, “... expandiram as definições dos direitos democráticos”.
O friso central do livro é que essas conquistas, somadas a outras, como o emplacar da democracia ímpar da Europa, são frutos não de uma evolução natural, ou do sucesso da economia, mas de uma incansável trajetória de lutas (muitas delas violentas) e de rupturas protagonizados por indivíduos agrupados e organizados.
O grande mérito de Forjando a democracia reside no fato de seu autor recuperar importantes processos históricos que envolvem as esquerdas no velho continente entre os anos 1850 e 2000, em sua intrincada relação com a democracia. Para tal, Geoff Eley não só rememora momentos erráticos e limítrofes do socialismo e do comunismo (vide a sangrenta desvirtuação stalinista da revolução russa nos anos 1930 e 1940), como vai além, mostrando que, enquanto estiveram à frente da hegemonia da esquerda européia, socialistas e comunistas alicerçaram boa parte dos direitos democráticos gozados nos dias de hoje.
Leitura recomendada: Forjando a democracia: a história da esquerda na Europa, 1850 – 2000, de Geoff Eley.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário.
Sua mensagem é muito bem-vinda!