Resenha: Instituições políticas brasileiras, de Oliveira Vianna.

Numa das primeiras experiências democráticas em território brasileiro, em meados de 1821, através do sufrágio universal, fatos tragicômicos foram registrados por cronistas da época. Sobre o pleito no Maranhão, João Francisco Lisboa publicou no  Jornal de Timon: “Dos bairros mais escusos da capital (...) acode um enxame de miseráveis, que, atraídos pelo amor do ganho ou da novidade (...) se repartem em bandos, conforme o número de partidos ou centros de reunião, a que possam filiar-se”, e segue: “Esta variegada turba (...) em grande parte, de figuras vulgares, sórdidas e ignóbeis, (...) derrama-se pela cidade (...) e cada um dos tais consome o dia batendo de porta em porta, para pedir ou extorquir do pobre diabo do candidato (...) dez tostões, dois mil réis, mais ou menos...”.

Mário Golshimitd

Esse depoimento, que beira o desespero, é uma das citações utilizadas habilmente por Oliveira Vianna (1883 – 1951) em seu Instituições políticas brasileiras, clássico liberal-conservador da sociologia brasileira. A temática da obra, composta por dois volumes, gira em torno da reflexão do aperfeiçoamento da democracia no Brasil e sua modernização, que para o autor, não passa – necessariamente – pelo direito de voto das classes populares.

Trata-se de uma tese perigosa por embasar regimes ditatoriais, como o vivido no país a partir de 1964. Uma das justificativas de Vianna é que a população brasileira – excluindo a classe aristocrática – não está suficientemente preparada estruturalmente e culturalmente para uma democracia com tais dimensões. Desse modo, o eleitorado popular não passaria de “base numérica”.

Ainda a esse respeito, o sociólogo aborda outros fatores importantes, e atuais, como a dependência de grande parte da população – sobretudo a rural – dos clãs familiares, que pleiteiam vagas em tais eleições ditas democráticas.

Leitura recomendada: Instituições políticas brasileiras, de Oliveira Vianna.

 

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