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A expressão “o trabalho dignifica o homem” não é por acaso. Foi por meio do trabalho que a espécie humana se consolidou como ser social. Um grande passo rumo a complexificação das relações foi dado com o advento da divisão social do trabalho. Mas a complexidade não parou aí. Na sequência, bem mais adiante, com o modo de produção capitalista, a complexidade da relação produtiva é alçada a um patamar delirante. O trabalhador é desmembrado do produto de seu trabalho.
Eloy Zaidan
Com o capitalismo, os meios de produção (equipamentos e instrumentos para confecção de produtos) são historicamente separados dos seus operadores, os operários. Estes, agora, possuem apenas a força de trabalho para barganharem diante do proprietário dos meios de produção. O capitalista, para fazer o seu meio de produção gerar riqueza, compra a força de produção dos operários. Os operadores dos equipamentos continuam a produzir, sendo que, desta feita, os produtos não os pertencem. São, sim, propriedades do patrão, o capitalista.
Logo, onde antes se observam artesãos produzindo individualmente, em seus equipamentos, artigos para troca, agora, tem-se galpões, chamados de fábricas, onde os artesões (os operários) trabalham em equipamentos mais modernos e de terceiros (dos empresários), vendendo o que lhes restam, a força de trabalho. O dinheiro recebido como resultado da venda da força de trabalho é chamado de salário. Os artigos produzidos pelos operários passam a ser vendidos pelo empresário, que, assim, obtém dinheiro. Do total obtido com a venda da produção, apenas uma parte é destinada ao pagamento dos operários e à manutenção do meio de produção. A outra parte do montante fica com o patrão, sob a alcunha de “lucro”. O lucro, por seu turno, pode ser investido, gerando mais capital para o proprietário do meio de produção. Já o trabalhador (o operário), ao fim deste ciclo, continua, grosso modo, no mesmo patamar, sem usufruir a riqueza que, no mínimo, ajudou a gerar.
Outro elemento que distingue os processos de produção de um operário em uma indústria e de um artesão em seus equipamentos individuais é o senso de unicidade e conectividade do processo. Enquanto o artesão, em sua origem, domina todo o fluxo produtivo de seu produto, o operário, na fábrica de seu patrão, ocupa-se, apenas, de um determinado elemento produtivo, passando a desconhecer o todo. Seu ofício torna-se “desconjuntado” e dependente de uma visão externa, a qual cabe orientar o conjunto de forças de trabalho desconexas. Tal alienação da própria atividade de trabalho, certamente, contribui, sobremaneira, para a alienação do operário perante o produto final, há esta altura, um ente completamente estranho e desconhecido.
Esse fenômeno histórico-social ajuda a explicar anomalias comuns em nossa sociedade de abismos sociais. Vemos, por exemplo, grupos de trabalhadores da construção civil, que, embora participem da edificação de suntuosos edifícios residenciais, residem em cortiços e favelas. Estes são, parafraseando o poeta Jorge de Lima, acendedores de lampiões que, a despeito de iluminarem as ruas da cidade, provavelmente não possuem luz em suas próprias choupanas.
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